14 março 2016

Bruna Cruz





Apresento a vocês a Careca nº 2, seu nome é Bruna Cruz. Com 23 anos, ela é professora de Alfabetização e Educação Física (escola e academia), mora no bairro de Campo Grande, no Rio de Janeiro. 



  • RELATO:


Então, galera!

Minha história foi meio que "TÔ NEM AÍ PRO MUNDO! O QUE EU QUERO É O QUE IMPORTA!!" 

Eu sempre, em toda a minha vida usei megahair. Usei cacheado, liso, enrolado, rasta, black, full lace, front lace, sintético... É isso mesmo, tudo que vocês possam imaginar. E em todo o sempre e para sempre eu dizia "NUNCA NA MINHA VIDA, VOU TIRAR ESSE CABELO". Mas acho que Deus faz a gente pagar com a língua, né?! Então, passou um tempo e do nada me peguei pensando: tá na hora de começar a cuidar do meu próprio cabelo. Mas ao mesmo tempo achava que ficaria estranha (porque, REALMENTE, só me via sem cabelo quando tirava pra refazer), mas logo repensei: Quer saber?? Vou passar a máquina e deixar crescer o meu natural. E maaais, vou platinar. SÓ DE ABUSO!

E comecei a ver fotos de meninas carecas, cheguei até a conversar com algumas, que inclusive, me fizeram ter mais vontade de "inventar" uma parada que ia dar certo de cara. E então, conversei com uma careca linda, chamada Vanessa, e me disse que ela cortava (raspava), e também pintava. Porém estava viajando, e estava muito longe do Rio. E eu queria pra ONTEM. Desesperada, ansiosa... E enquanto procurava alguém por perto, ela começou a me fazer inúmeras perguntas pra me encorajar, tipo: tem certeza que é isso que você quer? Já preparou todo mundo? Não vai influenciar no seu trabalho? Amigos?   








E minha resposta foi: olha, trabalho em academia, escola, tenho namorado, moro com meus pais... E MEU CABELO NÃO VAI INFLUENCIAR NA CONTA DE NINGUÉM. É isso que eu quero. Porém ela disse que nao poderia raspar e pintar no mesmo dia, pois poderia queimar o couro, caso machucasse ao raspar. Mas em fim, já estava decidida que iria fazer essa "loucura". E em seguida fui contar para os meus pais. Minha mãe não gostou da idéia, disse que eu ficaria horrível, porque "malho" e ficaria igual um homem, e teria que parar de malhar. Mas ela não acreditou, achou que eu estava brincando.


E fui eu procurar salões, barbearias, ações sociais que cortavam e pintavam, porque eu queria tudo no mesmo dia. Todos que me atenderam ficaram com medo, por ser mulher... Me perguntavam se era isso mesmo que eu queria, e porque eu não alisava? E minha resposta: porque eu QUERO raspar. Depois de andar muito por Campo Grande, me lembrei que tinha a Embelleze. Lá eles rasparam e coloriram meu cabelo.


Cheguei em casa, meus pais choraram, achando que iriam me "crucificar" por ter feito aquilo, ou iriam achar que fiz a cabeça para santo, ou mexeriam em respeito a sexualidade. No dia seguinte fui dar aula TODA TODA, e na rua ouvia os comentários: Caraca, uma preta é uma preta. _Que estilo! _Putz, muito maneiro! _Nossa, você é modelo?Que preta diferente! Ao chegar no trabalho as crianças adoraram passar a mão na minha careca. Na academia que trabalho, dou de cara com duas mulheres de cor branca que começam a rir e fiquei incomodada. E quando uma das meninas que estavam na recepção elogiou, e falou: caraca, você tem personalidade, respondi: SABE O QUE É? É QUE A POPULAÇÃO É TÃO IDIOTA A PONTO DE PENSAR QUE SOMENTE BRANCOS PODEM MUDAR A COR DO CABELO!!! Elas pararam e ficaram de cara. NUNCA MAIS RIRAM. Pelo menos perto de mim não.



                                          




Vou falar para vocês, EXPERIÊNCIA MAAAARA! TÔ AMANDO, uma das melhores coisas que já fiz. O pessoal na academia me chamando de KONKÁ é a melhor parte. A galera embora não tenha me reconhecido rápido e eu não seja igual a ela, me apelidaram de KONKA pelo estilo da nega. Essa careca transformou minha vida, sabe?! ME FEZ SER MAIS DECIDIDA. Aprendi a me enxergar de outra forma, aprendi a enxergar meus valores como mulher NEGRA! SEM CONTAR QUE É TÃO BARATO PRA UM RESULTADO ESPETACULAR.



Afinal, SE NÓS NEGRAS NÃO NOS CONSIDERARMOS NEGRAS, QUEM É QUE VAI FAZER ISSO POR NÓS????



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