08 agosto 2016

Adriana Quintiliano



IFÁ - Coleção Verão 2016 - Production: Karisa Ferreira - Ph/Retouch: MAVI
Assistance: João Santana
Make-up: Jaine Pita




Apresento à vocês a Careca nº12, seu nome é Adriana Nunes Quintiliano.
 Com 27 anos, ela é estudante, trabalha com Administração de Web,
 e é de Salvador, Bahia.




RELATO:


A maior parte da minha infância usei o cabelo curto, contra minha vontade. No orfanato onde eu fui criada, as cuidadoras mantinham o mesmo corte para meninas e meninos, porque algumas crianças novatas chegavam com piolhos.  Então para não ter muito trabalho, era mais fácil cortar os cabelos, onde as meninas tinham que  usar acessórios como tiara, presilhas e lenços para serem identificadas.  
Mesmo usando esses acessórios, as brincadeiras, junto com apelidos eram frequentes. Sempre ficava calada, não sabia o que fazer, e essas agressões me acompanharam até quando a direção da instituição mudou e foi assumida pela diretora Iraci Coimbra.  Ela estabeleceu uma ordem, na qual as meninas tinham que ter cabelos grandes, então as cuidadoras começaram a cuidar, eu estava entrando na adolescência.


Só que o meu cabelo é bem crespo, então sugeriram passar produtos químicos. Em uma dessas passadas, fiquei com a substância por muito tempo na cabeça e quando deram conta, o resultado foi assustador, pois começou a cair. E comecei a lembrar de todos os apelidos que recebia quando era criança, sabia que voltariam, e foi dito e feito.


Quando sai do orfanato aos 18 anos, tive meu primeiro contato com a internet. Comecei a pesquisar mulheres negras com diversos penteados afros, e fiquei encantada, logo de primeira, com a cantora Alicia Keys de tranças camaleão longas. Dai em diante comecei a experimentar todos os modelos de tranças, como também o mega hair, bateu lage (quadrado), coloridos e black.
A primeira vez que raspei a cabeça, por vontade própria, foi no ano de 2013, as pessoas me perguntavam “porque você cortou o cabelo”? ’’, outras diziam “há eu prefiro você com cabelo grande”, “deixa crescer e coloca aquelas tranças”. Esses questionamentos não me assustavam, pois coisas piores eu já tinha escutado no passado, mas ai com o tempo deixei o cabelo crescer novamente e comecei a colorir.


Depois usei tranças coloridas, durante um mês. Assim que tirei, conclui um trabalho fotográfico que estava pendente. Logo em seguida fui ao salão onde costumo frequentar e pedi para o Atilas, o cabeleireiro, passar a maquina zero baixa. Já fiz um pouco de tudo com o meu cabelo, hoje tenho orgulho de mim mesma, porque a atitude que não tive quando era criança para enfrentar aqueles apelidos, hoje respondo com minha liberdade e atitude de expressão. Quando estou careca me sinto com uma liberdade profunda que nunca senti antes, não faço parte de padrões estéticos que a sociedade impõe. Costumo andar de bicicleta aqui em Salvador e a sensação mais gostosa é sentir o vento na minha careca. Olha como são as coisas, a primeira vez que raspei a cabeça senti vontade também de fazer a minha primeira tatuagem, e o local onde tem o desenho da capa do disco do cantor Milton Nascimento é na cabeça.



instagram: @dricaquintiliano





Nenhum comentário:

Postar um comentário