21 março 2016

Lívia Noronha





Apresento à você a Careca nº 5, seu nome é Lívia Noronha, tem 26 anos e é paraense. Ela mora no Belém do Pará e é professora de filosofia na Universidade do Estado do Pará.



  • RELATO:




Há um ano, eu usava o cabelo longo e com franja. 
Sempre tive vontade de raspar a cabeça na máquina três, mas achava que ficaria "feia". A minha decisão por raspar a cabeça tem a ver com o meu empoderamento enquanto mulher negra. Via mulheres de cabeça raspada lindas, mas todas eram brancas e/ou tinham "traços finos", e eu carrego várias características da negritude, tenho lábios grossos e "nariz chato" e achava que essas características deveriam ser escondidas. Eu cresci ouvindo que esse era o tipo de coisa que a gente tem que "disfarçar". 

Há um ano, depois de muito estudo e contato com algumas mulheres - "fora dos padrões" - empoderadas e lindas, percebi que eram justamente as minhas características que diziam que eu deveria esconder, que me fazem linda, então raspei a cabeça (depois de cortar super curto, com tesoura) e doei os cabelos para uma Ong que faz perucas para mulheres vítimas de escalpelamento. Quando raspei a cabeça, e me vi bonita, sem precisar de cabelos que me escondiam, percebi mais nitidamente que nenhuma mulher precisa seguir o padrão que nos ordena que tenhamos cabelos longos, que emoldurariam nossos rostos, nossos rostos trazem a nossa identidade, quem somos, e não existe nada mais lindo do que mostrar isso. 






Ser careca não é ser menos feminina ou bonita, ser careca é ser estilosa, poderosa e naturalmente linda. Eu encorajo todas as mulheres que têm vontade, a rasparem a cabeça, experimentarem sentir o vento na cabeça (a sensação é incrível), olhar todos os detalhes do seu rosto e se amarem.




Sim, nós podemos!

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